Cefaleia cervicogênica

Cefaleia cervicogênica – a cefaleia originada no pescoço

O termo cefaleia cervicogênica significa, literalmente, dor de cabeça originada em alguma estrutura do pescoço. Estudos mostram que esse tipo de dor de cabeça ocorre em 0,4 a 4% da população.

Várias estruturas do pescoço podem ser causa de dores de cabeça. As mais comuns são as articulações entre as vértebras da coluna cervical, também chamadas de facetas cervicais, os discos intervertebrais, ligamentos e músculos.

A razão é que existe uma comunicação entre os nervos do pescoço e os nervos da cabeça e do rosto. É o que tecnicamente chamamos de reflexo trigeminocervical (Figura 1). O que acontece, então, é que estímulos dolorosos do pescoço podem ser sentidos na cabeça justamente por essa comunicação entre os nervos.

Figura 1: Ilustração demonstrando a comunicação entre os nervos do pescoço e os nervos da cabeça e do rosto.

Os pacientes com cefaleia cervicogênica costuma reclamar de dores com as seguintes características:

  • de um lado só da cabeça (embora em alguns casos até possa ocorrer dos dois lados).
  • a dor usualmente inicia-se na parte de trás da cabeça e pode irradiar para frente
  • a dor pode piorar com movimentos da cabeça (rotação/extensão)
  • pode haver limitação da amplitude de movimento do pescoço (ex. rodar menos para um lado do que para o outro).

Figura 2: Regiões das dores quando há um problema na articulação entre a primeira e segunda vértebras cervicais (figura da esquerda) e entre a segunda e terceira vértebras cervicais (figura da direita).

O diagnóstico da cefaleia cervicogenica é um pouco diferente das demais. Por que? Porque além das características da história clínica e do exame físico, bem como avaliação de alguns exames, é fundamental que seja realizado o que chamamos de bloqueio diagnóstico.

Como funciona o bloqueio diagnóstico?

Vamos supor que identificamos a articulação entre a primeira e a segunda vértebra cervical como possível causa das dores de cabeça do paciente. Essa identificação se faz, principalmente, através das características das dores e do exame físico realizado no consultório. 

Nesses casos, podemos fazer uma infiltração precisa, dentro dessa articulação. Essa infiltração deve, obrigatoriamente, ser realizada em um ambiente de centro cirúrgico e auxiliado por um aparelho de raio-x específico. Caso o paciente apresente melhora das dores após a infiltração, podemos dizer com maior exatidão de que aquela articulação era, de fato, a maior responsável pelas dores.

Usualmente definimos o tratamento iniciando por medidas mais simples, menos invasivas. Nos casos onde as dores não melhoram, aí sim partimos para tratamentos mais invasivos.

O tratamento conservador

Entende-se por tratamento conservador a combinação de medicamentos analgésicos com fisioterapia e, eventualmente, outras técnicas como acupuntura. 

Bloqueios anestésicos

Bloqueios anestésicos são infiltrações precisas e guiadas por métodos de imagem (ex. raio-x ou ultrassonografia) em estruturas que estão causando as dores. Essas estruturas podem ser articulações, ligamentos, nervos e músculos, por exemplo.  Então quando um paciente faz uma infiltração, é de fundamental importância saber qual estrutura será infiltrada e com qual substâncias. É possível infiltrar substâncias anestésicas com ou sem substâncias anti-inflamatórias, substâncias neurolíticas (que inativam nervos) e, em alguns casos, substâncias lubrificantes para algumas articulações.

Radiofrequência

Radiofrequência é um método para denervar uma estrutura. Vamos usar como exemplo uma articulação da coluna cervical entre a segunda e a terceira vértebras, também conhecida como articulação entre C2 e C3. Essa articulação pode sofrer um processo de artrose, o que pode ser acelerado por acidentes de carro, e pode causar dores cervicais e dores de cabeça. Nos casos mais graves podemos colocar uma agulha específica ao lado do nervo que inerva essa pequena articulação. Nesse caso o nervo chama-se “terceiro nervo occipital”. Por dentro dessa agulha conseguimos colocar um eletrodo que é ligado a um gerador de radiofrequência. Esse gerador emite uma corrente elétrica cujo objetivo é inativar esse nervo, diminuindo as dores originadas por aquela articulação. O procedimento é realizado sob sedação e não há necessidade de internação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1–7
1. Park, S. K. et al. Analysis of mechanical properties of cervical muscles in patients with cervicogenic headache. Journal of Physical Therapy Science 29, 332–335 (2017).
2. Kerr, F. W. L. & Olafson, R. A. Trigeminal and Cervical Volleys: Convergence on Single Units in the Spinal Gray at C-1 and C-2. Arch. Neurol. 5, 171–178 (1961).
3. Bogduk, N. & Govind, J. Cervicogenic headache: an assessment of the evidence on clinical diagnosis, invasive tests, and treatment. Lancet Neurol. 8, 959–68 (2009).
4. Bogduk, N. Cervicogenic headache: anatomic basis and pathophysiologic mechanisms. Current pain and headache reports 5, 382–386 (2001).
5. Cooper, G., Bailey, B. & Bogduk, N. Cervical zygapophysial joint pain maps. Pain Med. 8, 344–53
6. Narouze, S. N., Casanova, J. & Mekhail, N. The longitudinal effectiveness of lateral atlantoaxial intra-articular steroid injection in the treatment of cervicogenic headache. Pain Med. 8, 184–188 (2007).
7. Halim, W., Chua, N. H. L. & Vissers, K. C. Long-term pain relief in patients with cervicogenic headaches after pulsed radiofrequency application into the lateral atlantoaxial (C1-2) joint using an anterolateral approach. Pain Pract. 10, 267–271 (2010).

Open chat